Sunday, December 3, 2006

A Tragédia de MacFig

Personagens:
Duncu mano – Rei da Escócia
MacFig – Conde de Bernardess (mais tarde rei)
Lady MacFig – Mulher de MacFig
GentleBall – Criada de Lady MacFig
Beuhquo – Melhor amigo de MacFig
Weird Sisters: Parrecate, Crisontemus, Macacuss
Ramelass – O porteiro
MacFonso

Acto I
Cena 1

Weird Sisters. Numa praia nebulenta como a manhã em que chegará um dia D. Sebastião para salvar o país.

Parrecate – Babudabu, e dabudabu. Sapos, sapos e uma rã mole, encontramo-nos outra vez debaixo do.. soooool.
Crisontemus – Encontramos MacFig debaixo de uma figueira.
Macacuss – Rir a cagar, e cagar a rir, estaremos prontas para o que há de vir.
As três bruxas – Babudabu, e dabudabu.

Cena 2

Entra MacFig e Beuhquo. Uma colina sombria.

Beuhquo – Falai, bruxas.
Parrecate – Saúde, MacFig, serás rei.
Beuhquo – E porque falais tão bem de meu companheiro, não serei também eu digno de vosso juízo?
Parrecate – Serás menos que MacFig, mas maior. Não serás tão feliz, contudo muito menos infeliz.
Beuhquo – Parece que o futuro também me reserva coisas boas.


Cena 3

Saem as Weird Sisters. Entra Duncu mano.

Duncu mano – Pelo meu poder real eu reconheço a tua bravura, MacFig. Eu te denomino Conde de Bernardess.
Beuhquo – Beuh.
MacFig (aparte) – As previsões estavam certas. Serei rei! Mas como consegui-lo? Pedirei ajuda à minha querida mulher.

Cena 4

Lady MacFig, Beuhquo. Quarto ricamente ornado.

Lady MacFig – Sim, sim! Ambição, esconde nesta angelical face a tua negrura! Consome-me, mas não deixes a minha maldade transparecer! Serei rainha, serei, serei! Finalmente meu marido demonstra utilidade… e tu encarregar-te-ás de o manter focado na sua conquista.
Beuhquo – Senhora, eu amo-vos, mas não seria capaz de controlar o meu melhor amigo. As vossas palavras cruéis magoam-me.
Lady MacFig – Calai-vos e comei-me.
Beuhquo - Oh, mas minha senhora…

Cena 5

Sai Beuhquo, entra MacFig. Lady MacFig ajeita o penteado imaculado.

MacFig – Minha adorada mulher, faço tudo por vós. Sabei que as bruxas me prometeram a minha real posição. Vós mereceis tudo, tudo!
Lady MacFig – Pois mereço. Sois um homem?
MacFig – Alguns chamam-me verme atarracado, mas não é verdade. Sou um grande homem e por vós farei tudo.
Lady MacFig – Então sabei que não chegarás ao trono sozinho. O destino não tece as suas próprias malhas, é preciso trabalhar nelas. Para isso estou eu aqui, meu fiel marido, e ajudar-vos-ei a chegar ao trono. Mas para isso… tereis de matar Doncu mano.
MacFig – Jamais, minha adorada mulher! Um homem honrado como eu não mata outro! E o rei apraz-me muito!
Lady MacFig – Eu sabia que éreis um mocho. Onde está essa coragem? Onde estava essa coragem quando te declarásteis a mim no arco-íris?!
MacFig (transtornado) – Tendes razão minha mulher…

Cena 6

Doncu mano no Castelo de MacFig em Bernardess, tendo sido convidado de honra do mesmo. Noite chuvosa.

Lady MacFig – Doncu mano, como me aprazeis. Esses olhos penetrantes que vos saltam das órbitas, como me cativam.
Doncu mano – Mi señora, como sei que é um interesse seu, trouxe-lhe um queijo das melhores cabras da Catalunya.
Lady MacFig – Mas que gentil que sois.
MacFig – Deixai que vos lamba as botas lamacentas, meu Senhor.
Lady MacFig (em voz baixa, para o seu marido, com cara de repugnância) – não exageremos.
Doncu mano – Não, não, a companhia da sua Senhora já me deixa mais que satisfeito. (para Lady MacFig) Dancemos a danza del mar, Senhora.
Lady MacFig (sorrindo) – Sim, meu Senhor.

Cena 7

MacFig e Lady MacFig. Em voz baixa.

MacFig – Não me querendo cortar à última da hora, minha mulher…
Lady MacFig – Seu cobarde! Não vos recusarais agora, agora que estamos tão perto! Negais à vossa fiel mulher o direito ao trono? À felixidade? Pois sois um rato, um rato!
MacFig – Minha querida mulher… minha consciência está cheia de lagostas.
Lady MacFig – Esqueçai as lagostas! Sois um homem e comportar-vos-ás como tal!

Acto II
Cena 1

MacFig na adega, perdido nos seus pensamentos e segurando um cesto com figos do banquete.

MacFig – Que objecto é este que vejo perante mim? Que se exibe e me tenta, tão semelhante aos que tenho em minha posse? Pois será um figo? Um figo, que perdição. Símbolo da minha maldade. Vejo-o, quase consigo tocar-lhe, no entanto não me deixa fazê-lo. Vem, vem, figuinho. Deixa-me agarrar-te. Para onde me conduz? Oh, vejo que para o quarto de Doncu mano. Pois bem. Se tem que ser feito, assim seja.

Cena 2

MacFig e Doncu mano, a dormir. Quarto sombrio.

MacFig – Fá-lo-ei, nem que seja a última coisa que eu faça.

MacFig aproxima-se cautelosamente do leito de Doncu mano. Por breves instantes, hesita. Os olhos de Doncu mano abrem-se em horror perante o maníaco MacFig com o seu cesto de figos em riste.

Doncu mano (em desespero) – Que, que haces, M…
MacFig – Morrei, maldito!

Cena 3

Beuhquo, saindo do quarto onde dormia Doncu mano. Manhã cedo.

Beuhquo – Toquem o sino! Avisem o reino! Assassínio e traição! El-rei da Escócia jaz morto em seu quarto!

O rei jazia na sua cama, de olhos esgazeados e a sua garganta empanturrada de figos esmigalhados, visivelmente sufocado com o montante de fruta que tinha na boca.

Lady MacFig (entrando no quarto) – Oh! Como o mataram! Que crueldade! Com.. com figos! O nosso rei morreu sufocado com FIGOS!
Beuhquo – Pois é senhora… por muito infeliz que seja a situação, sois agora rainha! (Dá a mão carinhosamente a Lady MacFig, que lhe retribui com um sorriso.)

Cena4

MacFig. O seu quarto.

MacFig – Que foi esta troca de intimidades que vi do meu aposento? Que se estará passando por detrás das minhas costas? Amo a minha mulher, mas Beuhquo começa a ser um empecilho. Não se aproveitará da minha fortuna nem da minha mulher… Terei de me livrar dele. Mas como, oh como? Não sujarei mais estas mãos com figo. Terei de contratar alguém de confiança…talvez Gentleball, a criada de minha bela esposa. Mas como consegui-lo? Gentleball obedece apenas a Lady MacFig, e obedece com veneração toda e qualquer ordem que minha mulher lhe dê. Infelizmente terei de embriagar o meu amor para conseguir o que desejo.

Cena 5

Sala de jantar. MacFig e Lady MacFig. Gentleball a arear as pratas.

MacFig (aparte) – Com esta poção que me foi dada por Parrecate, a minha mulher estará suavizada em desejo e maleável em actos.
Lady MacFig – Esposo, que jantamos hoje, para celebrar essa coroa que usais?
MacFig – Jantamos um belo porco que Ramelass, o fiel porteiro, matou para nós, com molho de coentros e puré de castanhas. Para acompanhar temos o melhor vinho de Bernardess.
Lady MacFig – Marido, sabeis bem que não consumo bebidas alcoólicas. Faz parte dos meus princípios, sou uma senhora e como tal me comportarei. Nunca tocarei em vinho.
MacFig – Mas querida, nunca digais “Desta água não beberei”
Lady MacFig – Está bem.
MacFig (aparte) – Sim, sim, bebe o vinho que te entorpece, pois com cada trago minha vontade mais se sobrepõe à tua. Sim, bebe até à última gota, e estarás sobre o meu comando.
Lady MacFig – Ah… Gentleball, acho que estou alegre, talvez um pouco rosada…
Gentleball – Blue corazon diz tudo.
MacFig (sussurando para Lady MacFig) – Minha rainha, seremos completamente felizes se ordenares a Gentleball que mate Beuhquo. Ordena-lhe que o faça e prometo que terás uma vida de luxo e fausto para o resto dos teus dias.
Lady MacFig (atarantada) – Ah, Beuhquo, esse suíno! Inútil servo dos meus objectivos! Gentleball, ficarás encarregue da nobre tarefa de assassiná-lo!
Gentleball (boquiaberta) – S..sim, minha senhora. Às Vossas ordens.

Cena 6

Gentleball. Quarto de Beuhquo.

Gentleball – Que é esta substância que tinge as minhas mãos de rubro? É a culpa? É a minha consciência que sangra? Pois com consciência esvaída em sangue não poderei mais viver. Este punhal, sim, este que levou Beuhquo para o Céu levar-me-á para o Inferno.


Acto III
Cena 1

Lady MacFig. Quarto de dormir, passando folhas com nomes.

Lady MacFig – Fangus, Moreireth, Rufoss, não… nenhum destes me serve. Por quem eu morria de amores deixou-me e tenho de escolher um novo alvo para os meus apetites. Mas só MacFonso me satisfaz. Tenho de o conseguir! Oh, MacFig, que nunca descubras os meus vis desejos…

Cena 2

MacFig e sua esposa, quarto de dormir.

MacFig – Agora que finalmente temos paz, querida esposa, e que eu sou rei… sereis vós aquilo que prometesteis ser aquando do nosso casamento? Minha rainha, minha Senhora fiel?
Lady MacFig (lendo um livro) – Hm hm.
MacFig – Minha bela esposa, acompanhásteis-me durante todos estes obstáculos, fosteis a força que me impeliu para avivar o instinto assassino que há em mim, graças a vós matei Duncu mano e Beuhquo, e muitos mais matarei. Juntos, seremos invencíveis, faço tudo para vos satisfazer…
Lady MacFig (perturbada) – Pois… mas mesmo tudo não é suficiente.
MacFig – Mas que insatisfeita e caprichosa sois, esposa! Arre, um homem nobre faz tudo para vos satisfazer e vós retribuis com meros acenos de mão! (Aparte) Tenho de ir às Weird Sisters, procurar conselhos e certificar-me do meu futuro.

Cena 3

Uma gruta bolorenta. Weird sisters, MacFig, aparições.

MacFig – Dize, criaturas horripilentas do outro mundo! Dize, que futuro grandioso terá MacFig? Que glórias o esperam?
Parrecate – Ih, ih, ih, MacFig deseja saber o futuro.
Crisontemus – Mostrar-lho-emos.
Macacuss – Olhai, olhai para dentro do caldeirão. Rir a cagar e cagar a rir. Sapos lesmas e escaravelhos, sangue de cabra, cavelos e monelhos.

Primeira aparição - MacFig, MacFig, MacFig… fear MacFonso.
Segunda aparição - Nenhum homem te pode matar.

MacFig – Ah ah ah, sou invencível, intocável, o mundo é meu!

Cena 4

Lady MacFig, MacFonso. Seus aposentos.

MacFonso – Sois deveras uma princesa. Uma Ninfa do mar que me chama e me tenta. Oh, como não vos havia descoberto, ninfa divina…
Lady MacFig – Pois não resistais mais a essa tentação, sucumbai ao pecado, ninfo, e derrotai o meu marido para que juntos, possamos ter a real felicidade!
MacFonso – Por vós farei tudo, Ninfa! Matarei o suíno, vosso marido, seu sangue irá tingir as minhas mãos, decapitá-lo-ei e trarei sua cabeça para ornar a lareira! Esfrangalhá-lo-ei até guinchar, serei o vosso herói!
Lady MacFig (entusiasmada) – Sim, sim, sim!

Acto IV
Cena 1

MacFonso, MacFig, arena do castelo de Bernardess.

MacFonso – Morrei, morrei!
MacFig – Hahaha! Por quem me tomais? Nenhum homem me pode matar! Dizei, sois um homem?
MacFonso – Matar-vos-ei pela minha rainha, por este povo, sois um assassino e haveis de morrer como tal!
MacFig – Já vos expliquei, criatura, ninguém me pode matar! (defendendo-se dos golpes de MacFonso) Sou invencível! Imortal!
MacFonso – Mereceis morrer, mereceis ser castigado! Não escaparás impune!
MacFig – Mas o que não compreendeis da palavra imortal? O destino traçou para mim a imortalidade! Pois nenhum homem pode tirar-me a vida! Julgais-vos porventura um deus? Ah ah ah, miserável mortal!
MacFonso – Pois ficai sabendo que o sou! (decapita cabeça de MacFig). – A Justiça prevalece! O tirano morreu! Viva a Escócia, viva Bernardess, viva o povo, viva a minha Ninfa!

Cena 2

O povo, Lady MacFig, MacFonso.

Lady MacFig – Meu ninfo! Como o conseguisteis? Como derrotasteis tão pérfido marido, que me mantinha cativa havia tantos anos? Como executasteis esta terrível tarefa, arriscando a vida por mim? Terão as bruxas falhado? Terão elas, pela primeira vez, errado ao prever o futuro?
MacFonso – Não, minha senhora. Eu… eu não sou um homem.
Lady MacFig – Como não sois um homem?
MacFonso – Pois ficai sabendo que cromossomas que compõem as minhas estruturas celulares são XXY.
Lady MacFig – De que falais?
MacFonso – Sou ambos, sol e lua, fogo e água, yin e yang, homem e mulher.
Lady MacFig – Mas que aberração sois? Não sois um homem?
Um verdadeiro homem?
MacFonso – Mas isso que interessa? O vosso vil marido está morto, o tirano arrumado, tudo o que importa agora é o nosso amor! O vosso coração pertence-me!
Lady MacFig – Jamais tereis o meu coração, aberração da Mãe Natureza! Ireis arder na fogueira, na estaca, como um infiel, como um porco, como uma bruxa! Morrei, hermafrodita!
Povo – EEEEEHHHH!
Cena 3

Lady MacFig, Ramelass, na portaria.

Lady MacFig – Sou uma infeliz, ninguém me ama e nenhum homem me chega.
Ramelass – Eu sou homem o suficiente para vós.
Lady MacFig – Não, não, deixai-me ponderar os meus candidatos. Far-vos-ei um teste. Que é aquilo que me ocupa a mente neste momento? Qual é o meu maior desejo neste momento? Conseguis ler-me a mente?
Ramelass – Hum. Creio que Vossa Majestade deseja um MacBife. Ou estarei em erro?
Lady MacFig (perplexa) – Pois é verdade. É o que mais quero neste momento. Mas mesmo assim não sei se sereis o Homem imdicado para mim.
Ramelass – Como poderei prová-lo?
Lady MacFig – Um verdadeiro Homem saberia.
Ramelass (arrota muito alto)
Lady MacFig (encantada) – Sois vós! O homem dos meus sonhos, da minha vida!
Ramelass – Cala-te, mulher, e vai para a cozinha.








FIM

1 comment:

B said...

a minha parte preferida é mesmo a "Que, que haces..."